domingo, 26 de abril de 2009

hi, i'm 21 and I don't feel nothing.


ontem eu tava conversando com uma amiga de BH sobre o quanto essa época pré-aniversário (ou o que os místicos se referem a "Inferno Astral") é definitivamente uma bosta. primeiro que eu não sou uma pessoa exotérica (é assim que se escreve ou não?), nem ao menos sei o signo do meu pai por exemplo e soube que sou Taurina porque alguma boa alma me informou que o signo de Touro pertence a alguém nascido no final de abril. segundo, eu nem entro no mérito astrológico x astronômico da coisa, isso é óbvio, o primeiro não tem valor científico nenhum perante o segundo. mas olha que gozado né, há dois anos pra cá eu sinto o mesmo vazio dias antes de aniversariar, como se o fato de ficar mais velha e ganhasse dois quilos a mais por ano fizesse uma graaaande diferença. acho que isso significa que eu deveria ler Nietzsche.

daí que, voltando ao assunto, essa mesma amiga me recomendou o Personare, um site especializado em mapa astral e numerologia e o diabo a quatro e eu resolvi me inscrever pra ver qual é, pra ver o que os astros (lol) me dizem sobre isso. aí está, grifando as partes mais absurdas:

"Em nosso aniversário a vida se renova, pois entramos em nosso "ano novo pessoal". As atenções se voltam para nós, resgatamos nosso brilho de alma. É claro, aproveitar ou não este momento depende de você.

Que tal fazer resoluções para este novo ano que se inicia? Eu sei, você dirá que muitas outras vezes no passado você fez resoluções e planos que não conseguiu cumprir. Isso realmente é chato, e pode lhe tirar o estímulo, mas você já parou para pensar o que está por detrás das resoluções que não se tornaram reais?

Em primeiro lugar, e acima de tudo, é preciso considerar a qualidade natural do ano, Karina. A palavra "considerar" vem do latim "considerare", e significa "estar com o céu". Antes de fazer planos, é preciso verificar qual é a qualidade do céu para aquele ano! Pois a cada aniversário ganhamos um "mapa astral novo", um mapa simbólico que aponta as correntes mais rápidas e adequadas para se navegar no rio das nossas vidas.

Uma coisa é certa, Karina: neste período do seu aniversário, sua força pessoal se renova. Você está realmente com um poder maior para realizar seus desejos, intentos, interesses. Mas não são quaisquer intentos. É preciso ouvir o céu, saber ler o que os planetas estão dispondo para você neste ano. E existe uma forma de fazer isso: é conhecendo a sua REVOLUÇÃO SOLAR, uma interpretação astrológica que vai de um aniversário ao outro, revelando as predisposições naturais para este ano em específico. Que tal fazer as resoluções certas desta vez, considerando o que o céu dispõe?"

gostaria de salientar que isso me deixou absurdamente mais otimista. ainda mais sabendo que estou prestes a encontrar minha Revolução Solar, ou o que raios isso significa, anyway.

ouvindo: Neurosis - Locust Star

sábado, 11 de abril de 2009

Gramaticalizando

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

[redação feita por uma aluna de Letras da UFPE, que venceu um concurso promovido na área de Gramática da Língua Portuguesa].